22 de março de 2012

Não basta ser bom na cama

"Sou um pai global. A Mariana vive e trabalha em Los Angeles. O Pedro está em Galway a fazer Erasmus. O João - acho que nunca me enganarei na idade dele, por muito grave que seja o Alzheimer, pois nasceu no ano 2000 - ainda vive comigo.
Sempre que me pedem um currículo, a primeira informação que alinho é: Jorge Fiel, 55 anos, três filhos, jornalista, antes de tentar resumir capacidades e conhecimentos. os meus filhos são o mais pesado e generoso investimento que fiz no futuro da nossa língua e do nosso país.
No momento em que  PR reinicia os seus Roteiros (a versão cavaquista das Presidênciais Abertas de Mário Soares) pondo em cima da mesa a dramática questão do declínio da fecundidade, não posso esconder o orgulho que sinto por ter três filhos. Neste particular até falo em cima da burra. Maria e Cavaco tiveram dois filhos (Patrícia e Bruno), ou seja limitaram-se a repor o stock, enquanto eu ultrapassei largamente a taxa de fecundidade mínima (2,1) para a renovação das gerações, um valor que Portugal não atinge desde 1982.
O inverno demográfico é estruturalmente mais alarmante que o colapso grego ou o passivo monumental das empresas de transportes públicos, para já não falar de pentelhos, como os 45 mil euros de salário que a EDP paga a Catroga ou a controvérsia da tolerância de ponto no Carnaval.
Em 2011, o número de bebés nascidos em Portugal (99 mil) foi o mais baixo de sempre, apesar da contribuição externa (10% das mães são estrangeiras), deixando-nos com um vergonhoso índice de fecundidade de 1,37 (número médio de filhos por mulher), o 2º mais baixo do Mundo, a seguir à Bósnia.
A manter-se esta quebra na taxa de natalidade, o regresso ao crescimento será uma quimera, a Segurança social vai explodir e Portugal definhará e será um país cada vez mais pobre e cada vez mais velho.
O problema não está no conhecimento, nem tão-pouco no desejo. Nos treinos, apresentamos resultados invejáveis. Um estudo da multinacional farmacêutica Lilly revela que nós, portugueses, fazemos duas vezes sexo por semana, o melhor desempenho dos 13 países analisados - bem acima da média (1,4) e o dobro de americanos e dinamarqueses!
O problema é que não basta ser bom na cama. É também preciso rematar o golo. Para tirar partido em benefício do futuro do país do potencial sexual que alardeamos, é preciso o Governo estimular a procriação, aumentando os subsídios sociais e deduções fiscais aos jovens pais (e garantindo-lhes flexibilidade horária), assegurando uma cobertura nacional de creches e infantários e premiando as empresas que contratem grávidas.
A França investe 3,8% do orçamento no incentivo à maternidade. É vital para o nosso futuro como nação voltarmos a ver grávidas e carrinhos de bebés nos parques e nas ruas. Não há no Mundo coisa mais preciosa que os filhos."
by_Jorge Fiel | in_JN de 08.02.2012

2 comentários:

AC disse...

Num país onde a precariedade no emprego é palavra de ordem, onde os horários de trabalho são cada vez mais extensos e as horas extra horário quase uma obrigação como é possível as mulheres terem filhos e arriscarem na maternidade?..Criem condições para os casais terem filhos e acho que a população crescerá, agora assim... para viverem em dificuldades, privarem-se de tudo e terem putos com ranho no nariz, já por aí há muitos.;)

Magui disse...

"Não há no Mundo coisa mais preciosa que os filhos"
... sem duvida. :)